Na terra árida trincada
Dos caminhos íngremes
O rei sol queima o verde
O horizonte é ponto perdido
Nos troncos secos do cenário inóspito.
O calor do solo assemelha-se aos espinhos
A sede nas folhas são como as celas fechadas
Na falta do vento o calor aperta como máscaras
Que inflam nas rugas do rosto como labaredas.
O casebre de uma janela assiste
Devassidão que espalha sem piedade
Na porta sentado o homem desalentado
Olha o cachorro amigo companheiro do desatino
Os pés calejados e rachados marcam o sangue
Da sandália que arrasta o próprio corpo
As mãos fracas dividem a gota d’água
Com o sobrevivente amigo do dia
O pobre cachorro de pele e osso
Reparte o destino junto de barriga vazia.
As cidades cheias de luzes observam
Nas telas as roupas sujas e a boca desdentada
Na outra ponta do mundo desumano
O filme mais uma vez ganha o troféu
Aplaude a desgraça, roteiro que nunca se desfaz.
Penélope*M*